Sede de poder da elite boliviana

 A Bolívia, país que já foi considerado o mais pobre da América do Sul, esbanjou crescimento econômico por mais de uma década, está em crise desde 2019 com a reeleição de Evo Morales e, consequentemente, sua retirada do poder pela oposição através do que alguns chamam de golpe e outros de retomada do poder. Em 2020 esse crescimento pode não ocorrer por conta da instabilidade política e a pandemia do COVID19.

Evo, após assumir a presidência em 2006, nacionalizou o gás e o petróleo e negociou contratos com inúmeras multinacionais para que passasse a obter mais dinheiro das extrações ocorridas no país. O lítio, produto muito utilizado na produção de baterias de celulares e carros elétricos, também rendia muito receita. Além disso ele equalizou a situação da população indígena que antes era tratada como segunda categoria. Inclusive o bilionário Elon Musk admitiu auxílio para a instabilidade da nação.

Na época, e até nos dias atuais, a elite boliviana não concordou com isso porque queria o poder e o controle para si. Não é novidade em país algum e no Brasil isso ocorre desde o descobrimento. No caso dos bolivianos essa elite está concentrada na região de Santa Cruz de La Sierra.

Grande parte da população, muitos brancos e descendentes de europeus, ainda acreditam que as pessoas de origem indígena são sujas, mal educadas, sem escolaridade e que não devem fazer parte da tomada de decisões, ou seja, do poder. Os tratam, muitas vezes, como escravos e se orgulham de levam restos de suas comidas, quando saem para almoçar ou jantar em restaurantes, para seus funcionários comerem.

Essas pessoas se orgulham de serem brancas, querem que tudo se pareça com os Estados Unidos e tem casos onde falam claramente sobre Hitler sem apontar seus crimes e horrores cometidos contra os judeus. Apelam para a aparência física e apontam que suas filhas, amigas etc são lindas em comparação as demais.

Em Santa Cruz praticamente ninguém se torna político ou chega ao poder sem ter o apoio dessa elite. Eles fazem parte do "Comitê Pró-Santa Cruz", organização que se orgulha de ter colocado lenha na fogueira para retirar Evo, chamado de "Índio", do poder. Afirmam que 80% da derrubada do antigo governo é por conta do departamento.

Na reportagem "Bolívia: na estrada com a elite de Santa Cruz" essa situação é relatada e no trecho abaixo fica evidente o projeto para o país. Inclusive as mulheres têm um espaço específico no comitê, mas sequer tomam decisões ou são vozes principais nas escolhas por mais que atualmente a nação seja presidida por uma mulher, Jeanine Añez, considerada fantoche do militares.

"Situado no centro da cidade, na Rua Canada Strongest, em um belo edifício colonial cercado por um grande pátio sombreado onde tremula a bandeira verde e branca de Santa Cruz, o Comitê Pró-Santa Cruz é “o governo moral dos cidadãos de Santa Cruz”, explica Castel. O que ele faz? “Defende os interesses de Santa Cruz perante o Estado”. Embora composto por cerca de trezentas organizações da “sociedade civil”, o Comitê Pró-Santa Cruz é, desde sua fundação, em 1950, uma instituição de elite, firmemente controlada pela oligarquia local. Para candidatar-se à presidência da entidade é preciso ser apadrinhado por empresários influentes e fazer uma campanha que “custa caro”, explica Herland Vaca Díez Busch, presidente da instituição entre 2011 e 2013."

No Brasil ainda existe certo preconceito com os imigrantes bolivianos e pouca gente pensa em fazer turismo no país. Em sua maioria apenas vão para o Deserto de Sal e pouco aproveitam para conhecer La Paz, Sucre e Copacabana, à beira do lago Titicaca.

Inegável que Evo Morales melhorou a vida dos mais pobres e inúmeros bolivianos que viviam longe do país como Brasil, Argentina e Chile voltaram para suas cidades por conta dessa melhora. Seu grande problema foi não ter um sucessor e as manobras criadas para se reeleger pela segunda e terceira vez. Ou seja, tentou se perpetuar no poder assim como Hugo Chavez na Venezuela.

Em uma democracia ele deveria ter se retirado de cena após o segundo mandato e deixado a vida seguir e o povo eleger o presidente. Uma vez que seu governo foi ótimo o político de seu partido ou apoiado por ele seguramente seria eleito e daria continuidade. Por conta da ganância e sede de poder foi deposto e deixou o país em um caos civil que está agravado por conta da pandemia.


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