Categorias de base: custo ou investimento?

Durante a pandemia, que se arrasta por ao menos 5 meses no Brasil, pouco tenho lido ou acompanhado notícias de esportes e, principalmente, sobre futebol. Inclusive, neste mesmo blog, publiquei o texto Futebol em plena pandemia onde concordo com o retorno dos campeonatos no país.

Esta semana ao ver o facebook o título Por que o Brentford não tem categorias de base desde 2016 me chamou atenção e mesmo antes de ler me questionei: "Como um clube pode não ter categoria de base e o que o motivou a isso?".

Assim como o Brentford muitos clubes de divisões inferiores atuam com perspectiva de subirem de divisão e, quem sabe, chegar à elite nacional. Os acessos e algumas competições rendem dinheiro aos cofres que podem salvar financeiro o ano dessas equipes. Até mesmo aqueles times de cidades pequenas e com pouquíssimos torcedores têm esse objetivo. Porém, não é apenas isso!

As categorias de base do clubes formam atletas que no futuro podem ser vendidos à preços altos e renderem dinheiro às equipes. Muitos jogam na base, se profissionalizam pelos clubes, se destacam e vão para equipes maiores. No Brasil o principal torneio é a "Copa São Paulo de Futebol Júnior, disputada por uma centena de equipes e que ocorre todos os anos, no mês de janeiro.

Nem todo clube consegue formar jogador e vender para equipes da série A do Brasil ou da Europa e isso ocorre no mundo todo. Ou seja, investimentos são feitos na base, títulos nessas categorias muitas vezes não são conquistados, meninos dispensados e sem retorno para as equipes. Por vezes, quando há algum destaque, os empresários conseguem enviá-lo para equipes maiores por valores irrisórios de acordo com o mercado atual que, no meu ponto de vista, está supervalorizado.

A equipe inglesa decidiu inovar e desde 2016 não tem categoria de base. Optaram por montar um time B com jogadores dispensados de clubes maiores e aqueles que se destacam vão para o profissional ou são vendidos para outros times. Aparentemente, pelo planejamento do Brentford, isso têm dado certo porque na última temporada quase chegaram à elite do futebol inglês, que tem um dos campeonatos mais competitivos do mundo.

Do ponto de vista financeiro para os clubes menores, com um planejamento adequado, torna-se algo ótimo porque enxuga a folha salarial e gastos sem a certeza de retorno. Ao analisar o desenvolvimento do esporte e de atletas isso pode ser prejudicial, pois terão menos espaços e vagas para as crianças e adolescentes participarem e competirem em equipes profissionais.

Não tenho conhecimento de como são as coisas na Inglaterra, mas no Brasil os empresários têm grande poder (não influência, mas poder) nos clubes e conseguem cooptar jogadores, mudá-los de time seja por força de contrato ou até mesmo na justiça. Se apenas os maiores clubes manterem as categorias de base as exigências de quem fica no time aumenta e isso pode elevar a qualidade dos atletas.

Acredito ser extremamente interessante esse projeto do time inglês, mas ainda é cedo para afirmar ser o modelo ideal porque tem apenas 4 anos. À longo prazo como será para o clube? Se mais equipes aderirem como ficará a formação de jovens? As equipes formadores vão olhar mais para torneios de várzea e escolinhas de bairro ou os empresários continuarão com o poder?

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