O derretimento das geleiras bolivianas

A Bolívia, país vizinho ao Brasil, recentemente vive uma crise política com Evo Morales retirado da presidência por ter tentado se perpetuar no poder com várias reeleições que, do meu ponto de visto, foi totalmente equivocado porque ele poderia ter apoiado um candidato do seu partido.

La Paz, uma das capitais e sede do governo, está a mais de 3.600 acima de mar e El Alto, cidade vizinha onde localiza-se o aeroporto internacional de Viru-Viru e mais de 4.000 de altitude, extremamente pobre, com cerca de 2 milhões de habitantes, onde a situação tende a piorar por conta do aquecimento global que impacta diretamente nas geleiras e montanhas da região.


Chacaltaya (em aymara seu nome significa Ponte de Gelo) é um dos picos da Cordilheira dos Andes e distante cerca de 30 quilômetros de La Paz tem perdido muito de sua neve nos últimos anos. No passado muitas pessoas iam conhecer a estação de esqui mais alta do mundo e enfrentavam os efeitos da altitude, como o soroche, para esquiar com a família e amigos. A região perdeu 37% da superfície glacial e muitos bolivianos dependem da água das geleiras. Pela região onde está localizada no inverno ocorre a seca e no verão, quando chove, neva nos picos e em algumas cidades.

Engenheiros estudam o fenômeno há anos e instalaram equipamentos científicos nas cidades mais afastadas onde vivem os camponeses que, por não confiar em pessoas de fora, muitas vezes danificavam os equipamentos. Após um trabalho de conscientização eles mesmos pedem a instalação para acompanhar a situação, pois o derretimento das geleiras dos picos nos Andes é uma das mais rápidas do mundo.

Por conta desse problema cidades precisam racionar o uso da água e as classes média e alta se viram nessa situação, o que gerou desconforto e protestos contra o governo. La Paz se viu obrigada a construir reservatórios e El Alto poços para atender a população porque entre novembro/2016 e março/2017 ocorreu a pior seca de todos os tempos no país. Férias escolares foram antecipadas e muitas lhamas morreram. Cochabamba, cidade mais acostumada às secas, está mais adaptada a esse tipo de problema.

Foto da cidade de El Alto -  maio/2011 - Arquivo pessoal

Pouco tempo depois, já na época das chuvas que chegaram fortes, inundações ocorreram. Vale lembrar que em 2000 a água foi privatizada e em Cochabamba a tarifa duplicou o que fez o povo se revoltar, ir às ruas e mortes ocorreram. Esse problema é relatado no filme 007 - Quantum of Solace.

Evo Morales, via referendo, conseguiu colocar na constituição que a água é um direito fundamental e ela foi estatizada novamente. Apesar de muitas pessoas serem a favor de privatizações atualmente a questão da água é algo que vai na contramão e muitos países, principalmente na Europa, fazem o caminho inverso porque os serviços prestados não atendem toda a população e as empresas cobram preços abusivos assim como ocorreu na Bolívia.

Ainda que o aquecimento global seja um problema na Bolívia e no mundo muitos camponeses que vivem na altitude vêem o clima atual como algo bom. Quando jovens a temperatura era muito fria e não conseguiam plantar quase nada enquanto atualmente colhem batatas e outros produtos para vender nas cidades.

Foto da Plaza Murillo, La Paz -  maio/2011 - Arquivo pessoal

Essas comunidades conseguem alugar tratores e não precisam mais arar a terra com ferramentes manuais. O problema é que os tratores cavam mais fundo e isso aumenta a emissão de CO², o que causa um grande impacto ambiental. Difícil convencer um camponês do contrário quando seu estilo de vida melhorou um pouco e agora ele têm acesso a coisas que antes não tinha.

O país tem grandes chances de reverter esses problemas e pensar na população e, para isso, precisam realizar mudanças no consumo e estar alinhados com a agenda ambiental. Caso contrário a crise da água aumentará e muitas pessoas e cidades sofrerão os impactos nos próximos anos.

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