Assento preferencial não deveria existir em transporte público
Através da conscientização e educação as pessoas vão ter ideia de seu papel na sociedade
Por Thiago Marcondes
Normalmente as pessoas são acostumadas a utilizar o transporte público da cidade onde vivem e por conta dos serviços prestados sempre existem críticas e reclamações. O ser humano quase sempre evidencia o problema, o lado ruim e em raras oportunidades oferece alternativas.
Ao viajar de férias alguns optam por utilizar o transporte público da cidade visitada e outros, por conforto, utilizam taxi. Algo normal e não há como dizer que umas pessoas estão certas e outras ou erradas. São apenas opções que podem deixar o custo da viagem mais baixo e, assim, o viajante terá experiências sobre o dia-a-dia local.
Quando viajo tento, sempre que possível, utilizar o transporte público das cidades para me locomover. Fiz isso na Cidade do Cabo, La Paz, Havana, Medellín e Bogotá sem qualquer arrependimento. Com isso o senso crítico é aguçado, pois não há como evitar comparações com a cidade onde se vive.
Medellín, famosa pelo narcotráfico nas décadas de 80 e 90, teve como seu grande nome o traficante Pablo Escobar, que comandou a violência na cidade e no país. Até hoje, quando se fala na cidade, estereótipos são lançados sem ao menos existir reflexão do tempo de que se passou. Atualmente a arquitetura e modernidade destacam a região, além das obras de arte de Fernando Botero.
Utilizei o metrô de Medellín durante os quatro dias de estadia na cidade e uma curiosidade foi observada no transporte: não havia assento preferencial no vagão do metrô. Pelo menos não naqueles que utilizei. Existe uma lei específica para os ônibus que devem ter lugares específicos para idosos, gestantes, pessoas com crianças e portadores de necessidades especiais.
Os antioqueños (nascidos na região de Antióquia - Medellín) têm uma cultura de cidadania impressionante e são extremamente atenciosos e respeitosos com os turistas e, acima de tudo, com os próprios colombianos. No metrô, quando entrava uma grávida, idoso etc quem estava sentado levantava para oferecer o próprio assento. Algo raro de ser visto em São Paulo e demais grandes cidades do Brasil e até mesmo no mundo.
O fato não aconteceu apenas uma vez para dizer que foi algo isolado. Ao menos cinco vezes eu e minha esposa presenciamos pessoas se levantarem para ceder o lugar sem que o idoso ou a gestante precisasse esperar ao lado. Em cada estação os cidadãos que utilizavam os assentos ficavam atentos em quem entrava para simplesmente oferecer seu lugar.
Na capital paulista não é difícil ver pessoas que fingem dormir para não ceder o lugar, ficar ao telefone, ou até mesmo olhar para o lado, para o alto, para o chão somente para permanecerem sentadas ao longo do trajeto.
Antes de viajar para Medellín lí muito à respeito da cidade, pontos turísticos e violência. Descobri que os cidadãos, depois da morte de Escobar, resolveram virar a página e mudar o conceito da cidade. São orgulhosos por serem colombianos, antioqueños, e fazem o máximo possível para o visitante e os locais se sentirem bem. Talvez isso, ao longo dos anos, tenha inserido na sociedade a ideia de cultura cidadã e de preocupação com quem precisa de atenção especial.
Claro que não é 100% da população que pensa e age dessa forma, pois basta fazer uma pesquisa rápida no google para encontrar posts com reclamação. Isso vai ao encontro ao primeiro parágrafo do artigo, que as pessoas sempre evidenciam o ruim e não ressaltam o lado positivo.
No passado sempre apoiei os assentos preferenciais no transporte (e ainda apoio), mas acredito que com o tempo isso deve sumir. A sociedade, com educação e conscientização, deve fazer seu papel sem que exista uma lei e lugares com cores diferenciadas para lembrá-los da cidadania e respeito com quem está à sua volta.
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