A Eliminação da Copa Não é o Final do Mundo

A primeira Copa do Mundo de futebol no continente africano já caminha para o final da primeira fase e, pelo que acompanhei nos jornais e sítios na internet, o torneio e sua organização em uma nação de terceiro mundo não foi aquilo que muitos pensaram que seria. Uma grande confusão e inúmeros problemas.

Aliás, pelo que temos visto nas telinhas das emissoras que transmitem os jogos, um  dos problemas é o futebol defensivo e extremamente tático que impede o torneio de exibir belas jogadas e gols com mais frequência. Isso dentro do campo, porque fora dele foi possível verificar alguns assaltos e trânsito, mas nada que nos surpreendesse se analisarmos a atual situação da sociedade sul-africana.

Por ser um evento mundial em um continente esquecido pela grande mídia (antes de ser sede da copa é claro!!!) as seleções africanas ficaram em destaque e um bom desempenho era esperado. Porém, não foi isso que vimos até o momento e somente Gana tem condições de avançar à próxima fase.

A eliminação precoce de Camarões, Nigéria e África do Sul fizeram com que a mídia esportiva mundial gerasse uma grande discussão em torno dessas seleções, pois a maioria dos seus jogadores, exceto os do país anfitrião, são profissionais em grandes e médios clubes da Europa.

Existe vida além da copa e ela é bem sofrida

Todo esse texto acima tem um sentido que não é tratar do fraco futebol praticado pelos africanos, mas sim voltar os olhos para as suas nações e seus problemas sociais que assolam a população e contribuem para o pouco crescimento econômico dos países.

Camarões foi colônia francesa e somente na década de 60 conseguiu sua independência. Os povos do norte, de maioria muçulmana, resolveram se anexar à Nigéria onde permanecem até os dias atuais. Com sistema presidencialista, o seu presidente Paul Byia está no poder desde 1992, no mínimo, quando houve as primeiras eleições multipartidárias no país. Até hoje existem focos de resistência em relação às áreas separatistas e inúmeras pessoas fogem para conquistar uma vida melhor.

A Nigéria, que foi colônia britânica, também conseguiu sua independência há pouco tempo e isso, como na maioria das nações africanas, gerou uma guerra cívil. O país teve poucos momentos de estabilidade (se é que podemos dizer isso) e atualmente sofre com conflitos entre cristãos e muçulmanos que se enfrentam para conseguir o poder. Isso assola a população, causando êxodo devido o conflito armado e instabilidade econômica e social.

A África do Sul, como sabemos, também foi colonizada pelos britânicos, mas tem um pézinho de holandeses no meio. O apartheid, sistema de segregação racial que oprimiu os negros, acabou no início dos anos 90 e trouxe consequências graves ao país.

Atualmente os brancos são detentores da maioria da riqueza e os negros ainda são os menos favorecidos. Existem políticas sociais que facilitam o acesso deles ao mercado de trabalho para conseguirem as mesmas oportunidades que os demais, mas ainda assim existe o preconceito. Afinal, se no Brasil depois de mais de 100 anos do final da escravidão ainda restam vestígios de problemas com a cor da pele, imaginem na África de Sul onde o apartheid terminou tem pouco mais de 15 anos.

Enfim, podemos tirar uma lição de tudo isso. A eliminação precoce de uma copa de mundo (mesmo que seja um torneio de 4 em 4 anos) não é o fim do mundo para uma nação. Como vimos, eles ainda têm muito o que fazer para acabarem com o sofrimento de suas populações.

Comentários

Marcos Guedes disse…
Infelizmente para os africanos será o fim do mundo... Muito interessante o conteúdo histórico do texto, mas como todos sabemos, assim que acabar a Copa, o mundo vai virar as costas para o continente africano novamente.

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