Hospitais como negócio lucrativo

A pandemia do COVID-19 no Brasil dura mais de seis meses onde ocorreram confinamentos, trabalhos em home office, escolas e diversas atividades paralisadas e que afetaram o país economicamente, inclusive o setor de saúde. Cirurgias, consultas e exames eletivos foram desmarcados ou reagendados e hospitais, públicos e privados, tiveram seus resultados financeiros afetados.

As entidades se prepararam para atender os pacientes contaminados e por existir necessidade de isolamento o número de internações caiu. Hospitais de campanha foram criados exclusivamente para esses casos (superfaturamento em vários estados como Rio de Janeiro, Santa Catarina e Pernambuco estão com investigações e prisões) e o Sistema Única de Saúde (SUS)  foi um pilar para sustentar esse grande volume de pacientes.

No Brasil gosta-se de criticar a saúde pública mesmo que o SUS seja elogiado no mundo todo, mesmo sem ser perfeito, e falar bem da saúde suplementar (privada) com as operadoras, conhecidas como convênios. Comparações com sistemas de saúde da Europa são feitos, mas nem sempre os problemas de fora são citados.

A Alemanha, de acordo com a reportagem "Na Alemanha, hospitais bem rentáveis" publicada na edição de setembro da revista Le Monde Diplomatique, existem leitos de U.T.I. e faltam profissionais para trabalhar por conta da remuneração e condições de trabalho. Muitas pessoas da área da saúde, após trabalharem por um período nos hospitais, mudam de empresa e atividade.

Assim como na França a forma de pagamento dos procedimentos realizados nos pacientes é por caso, ou seja, um valor fechado de acordo com o diagnóstico (DRG - Diagnosis-related group). Com a privatização de inúmeros hospitais nos últimos anos a saúde se tornou algo lucrativo e, por isso, os gestores optam por atender as especialidades que pagam mais como cardiologia e ortopedia e, em contra partida, partos não são muito rentáveis (na Alemanha e no Brasil) e em algumas regiões tentarem fechar maternidades, ideia logo descartada após ação da população.



Esse tipo de remuneração dos hospitais é basicamente assim:

O hospital recebe, por exemplo, 15 mil euros para internar um paciente e realizar a retirada de um rim. Se tem custo de 10 mil euros ele lucar 5 mil, porém se ultrapassa o valor recebido tem prejuízo. Existe risco de ambos os lados porque a fonte pagadora pode repassar mais do que deveria e quem recebe também pode ser prejudicado.

Por conta disso o país possui inúmeros leitos de U.T.I.'s e conseguiu atender muito bem os casos de COVID, mas alertaram que se o contagio tivesse sido como na Espanha e Itália faltariam profissionais da saúde para atender os pacientes. Ou seja, mais mortes ocorreriam. Lá os hospitais também ficaram vazios e o governo destinou verba para mantê-los, pois recebem por diagnóstico, mas não havia pacientes.

Houve distritos que apresentaram projetos que pessoas com formação em área de saúde obrigatoriamente deveriam exercer essas função, mas a ideia foi logo descartada porque fere a liberdade de cada um escolher o que é melhor para si. Por conta disso e outras situações mudanças são feitas na Alemanha para oferecer melhores condições de trabalho.

No Brasil algumas instituições começaram a implantar o DRG como nova forma de fonte pagadora e, para isso, trabalhos são realizados junto às operadoras de saúde para selecionar quais diagnósticos serão utilizados nesse primeiro momento. Aqui temos muitos hospitais privados e no momento a febre o DRG faz todo mundo pensar positivamente, inclusive eu, mas essa questão que ocorre na Alemanha também preocupa uma vez que hospitais privados podem começar a selecionar (ainda mais) o que vão atender.

Não existe sistema de saúde perfeito e tampouco forma de pagamento. Mudanças sempre são bem vindas, mas há necessidade de cautela para que algumas doenças/diagnósticos não sejam priorizados em detrimentos à outros.  


Fontes:

DRG Brasil - Valor em Saúde.

https://www.drgbrasil.com.br/ > Acessado em 18/09/2020.

Na Alemanha, hospitais bem rentáveis.

https://diplomatique.org.br/na-alemanha-hospitais-bem-rentaveis/ > Acessado em 18/09/2020.


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