Havana: uma cidade encantadora
Conhecer
a capital é como viver no passado sem perder a essência desse mundo globalizado
Por Thiago Marcondes
Minha viagem por Cuba começou em 2005 ao ler muitas coisas sobre o país, a cultura, o povo e as histórias após chegada de
Fidel Castro ao poder. Muitos afirmam que a revolução cubana começou, de fato,
com José Martí após a independência da nação em relação ao domínio espanhol.
Cuba sempre foi um sonho por conta do
socialismo exercido na ilha. Ao analisar as teorias de esquerda o país não é
socialista 100%, mas os governantes conseguiram universalizar muitos direitos
básicos para os cidadãos. Não sou socialista, embora os oráculos da vida, os
aspirantes ao cargo de presidente da O.N.U. e a turma do N.A.S. (Neuróticos Anônimos do Sofá – expressão emprestada da grande jornalista,
pesquisadora e professora Cilene Víctor) se esforcem para afirmar isso, mas
alguns dos ideais me encantam e conhecer um lugar com esse sistema político é
uma situação mais que gigante. É magnífico!
Por conta do período de faculdade, que incluiu
muitos gastos e ainda por cima não trabalhei com jornalismo (uma pequena frustração), não houve condições
financeiras para visitar o país, mas nunca pensei em desistir do sonho. Quando
estava próximo do casamento conversei com minha esposa, na época ainda
noiva, sobre a viagem de lua de mel e ela, sem pensar duas vezes, aceitou
conhecer a ilha.
Eu e minha esposa ficamos em Havana por cinco
dias, no bairro El Vedado, conhecido como um dos melhores da cidade por estar
próximo do centro, da Praça da Revolução, do Malecón, Museu da Revolução e com muitos hotéis e restaurantes na região. A hospedagem foi Hotel Tryp
Habana Libre, de 4 estrelas, e muitos falaram que visitar um país extremamente
pobre e ficar em uma lugar praticamente de luxo era algo contraditório, mas
isso não abalou a ideia da viagem.
Praça da Revolução - Foto: Thiago Marcondes
Em Cuba existem dois tipos de moedas que são
os pesos cubanos, usados pelos cubanos, e o CUC (peso convertíveis), usado
pelos turistas e estrangeiros residentes na ilha. 1 CUC é equivalente a cerca
de 20 e 25 pesos cubanos e o salário médio de um cidadão está por volta de US$
30 e US$ 35.
Saía todos os dias para conhecer a cidade,
andar pelas ruas, falar com as pessoas, visitar museus e vários pontos turísticos.
Existem relatos na internet com informações que os cubanos pedem dinheiro aos
turistas e isso não ocorreu. Não como citam, de ser abordado na rua e ter os
cidadãos como simples pedintes.
Os cubanos pedem, e isso é verdade, uma
gorjeta, digamos assim, quando ajudam as pessoas nas ruas com informações sobre
qual ônibus pegar, qual caminho seguir etc. Se um turista entrega 1 CUC como
gorjeta é praticamente o mesmo que um dia de trabalho para as pessoas. Entretanto
não há mendigos nas ruas e nem crianças no semáforo com balas ou quaisquer
outros produtos para vender e poder ajudar a complementar a renda das famílias.
As crianças nas ruas sempre estavam com
uniformes escolares ou brincando entre si. Ou seja, aproveitavam a infância
como qualquer outro de sua idade e viviam sem preocupações de adultos.
Como meio de transporte utilizei taxis
privados (alguns vão ficar com nó na cabeça por pensar em algo privado em Cuba,
mas existe), pois tinham preços acessíveis (cerca de 5 CUC’s), e o serviço de
ônibus como qualquer cidadão utiliza. Há taxis coletivos e o dono do veículo
tem um trajeto fixo e deve parar nos pontos para entrada e saída de
passageiros. O valor é mais em conta e geralmente os carros são velhos, mas sem
perigo algum para quem os utiliza.
Taxi coletivo - Foto: Thiago Marcondes
Caminhar pelas ruas também é tranquilo, seja
de dia ou à noite. Havana não tem perigo, pois as pessoas precisam do turismo
para sobreviver e tratam super bem os visitantes. Quem trabalha nessa área
recebe em CUC’s e tem acesso a produtos que a maioria da população não consegue
por conta das condições financeiras.
Existem perigos na cidade? Claro que sim! Por
ser uma capital o viajante está sujeito a qualquer situação, porém afirmo ser
mais tranquilo caminhar em Havana do que em São Paulo, Recife, Medellín ou
Bogotá. O turista pode se sentir inseguro, pois existe racionamento de energia
e muitas vezes algumas ruas ficam escuras. Ao sair para jantar um casal não
carrega menos que 50 CUC’s e qualquer cubano tem essa noção. Esse valor
representa mais que um mês de salário e quem viaja se sente como potencial
vítima de assalto.
Para turistas os produtos e passeios são relativamente
caros. Principalmente para os latino-americanos por conta da moeda de seus
respectivos países. 1 CUC é equivalente a US$ 0.87 e às vezes é menos caro
viajar para os Estados Unidas do que para Cuba.
Os edifícios, ônibus
e carros são antigos e deixam a cidade com um aspecto romântico, saudosista e
misterioso ao mesmo tempo. Ao olhar pela janela do quarto ou mesmo nas ruas
acreditava estar em um filme da década de 50 ou 60, mas era março de 2014.
Acredito que a
situação dos cubanos seria extremamente melhor caso não existisse o embargo
econômico. As pessoas têm saúde e educação gratuitamente, mas em contrapartida
algumas liberdades são restritas e nos mercados não há tantos produtos básicos
disponíveis para todo o mês.
Nem tudo é perfeito
e não importa o sistema político, mas no meu simples ponto de vista a revolução
cubana foi praticamente concretizada por conta dos serviços básicos que todos
os povos do mundo deveriam ter e os cubanos têm. Ainda há muito para melhorar e
com a volta das relações com os Estados Unidos tudo indica que haverá
crescimento.
Por toda a cidade há outdoors sobre a revolução - Foto: Thiago Marcondes
Cuba é atrativa,
encantadora, maravilhosa e conhecer a ilha foi um grande sonho realizado.
Visitei também Cayo Largo, uma pequena ilha no Caribe, e Varadero, mas as
histórias dessas viagens ficam para outros posts.
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