Futebol, violência e falta de investigação por parte da mídia
Os
meios de comunicação brasileiros destacaram a morte do jovem boliviano, mas não
informou ser comum fogos de artifício em praticamente todos os jogos locais
Por
Thiago Marcondes
O primeiro jogo do Corinthians na Libertadores/2013,
contra o San Jose da Bolívia, tinha um
clima de festa para ambos os times já que o Timão iniciaria a corrida pelo
bi-campeonato e os bolivianos poderiam ver Alexandre Pato, a grande contratação
da temporada, e o atual campeão do mundo em seu país, mas tudo mudou porque uma
tragédia aconteceu.
O jogo correu normalmente e terminou empatado em 1x1. A
equipe boliviana, inferior tecnicamente em relação ao Corinthians, fez valer a
altitude de cerca de 3.700m e conseguiu um bom resultado. Independente do placar, um menino boliviano de 14
anos, chamado Kevin Beltrán Espada,
morreu ontem no estádio após ser atingido no olho por fogos de artifício que
partiram da torcida corinthiana.
O fato, lamentável e que retirou a
vida do garoto, deve ser julgado e os culpados condenados. Concordo com a
atitude de o time jogar sem a presença dos seus torcedores, seja no Pacaembu ou
na casa do adversário, como forma de mostrar ao mundo que a América do Sul não
irá tolerar mais situações como essas.
Defendo também punição do San Jose
porque o jogo foi em suas dependências e torcedores entraram com fogos de
artifício no estádio. Pode parecer que defendo o Corinthians, mas na Bolívia isso
é algo comum nas partidas.
A mídia brasileira seja a
televisiva, de internet, impressa ou rádio, trouxe o assunto como destaque e
alguns apresentadores, caso de Tiago Leifert, da Rede Globo, pediram que o
Corinthians fosse banido da competição ao menos em 2013, mas nada falaram da
confederação boliviana ou da cultura do povo dentro dos estádios. Faltou um
pouco de análise e investigação para manter parcialidade diante da sociedade.
Thiago
Marcondes – 23/05/2011
Torcida
do Bolívar com fogos de artifício antes do jogo contra o Real Mamoré, em La Paz
Em relação à imprensa brasileira
podemos dizer que ao prestar um serviço de informações não coletou informações
de ambos os lados, pois se fizessem com certeza saberiam do costume.
Sinceramente, não sei se a legislação boliviana permite isso, mas ao deixar de
explicar a cultura local e o que de fato acontece a mídia faz suas reportagens
se tornarem tendenciosas.
Em 2011 estive em um jogo entre
Bolívar e Real Mamoré onde a torcida bolivariana acendeu fogos praticamente
durante todo o jogo. A partida chegou a ser interrompida por conta da fumaça
que atrapalhava visibilidade do goleiro adversário. Inclusive, um homem que
estava em minha frente foi atingido e por sorte não se feriu. Ao ser
questionado sobre o fato ele respondeu: “Hay pirotecnia en todos los partidos!”.
Aliás, algo deve ficar bem claro: não
é permitida a entrada de sinalizadores e fogos de artifício nos estádios
bolivianos e, pelo visto, as autoridades locais não parecem se preocupar muito
com isso. Quem cometeu o erro deve pagar, seja o torcedor, time e autoridades
esportivas que não se comprometem em cumprir as leis.
Como um bom corinthiano e amante do
esporte sem violência não ficarei estou triste pela punição, mas serei
eternamente feliz quando os jornais começarem a destacar os 02 lados da moeda.
Thiago Marcondes é pós-graduando em Gestão de Projetos
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