Chagos: um paraíso dominado pelos militares
Chagossianos foram expulsos de suas terras em troca de desconto em armas nucleares
Por Thiago Marcondes
Localizada no Oceano Índico, Diego Garcia, a maior das 60 ilhas e atóis existentes no arquipélago de Chagos, abriga atualmente uma base militar estadunidense e não há moradores nativos. Barizada por portugueses e colonizada pelos franceses e ingleses, a ilha possui edifícios da marinha dos E.U.A. e duas pistas de pouso, no local residem 2 mil habitantes e todos são militares.
A ilha pertencia a Inglaterra e na década de 60 foi cedida aos Estados Unidos por desconto na compra de armas nucleares, pois o governo estadunidense viu grande potencial na região para instalar uma base militar e poder ter o controle da região, que está situada entre a África e o Golfo Pérsico.
Os nativos que viviam no arquipélago tinham (quem está vivo mantém as tradições) sua própria língua, cultura e moravam tranquilamente em suas casas. Depois da cessão do governo inglês os habitantes foram, digamos assim, expulsos de suas casas e a última leva enviada para as Ilhas Maurício no ano de 1973.
Os últimos chagossianos vivos resistem fortemente e querem de volta o direito de morar onde nasceram e viveram parte de suas vidas. A ONG Chagos Refugges Group, em 2000, conseguiu sua primeira vitória na justiça britânica e toda ação que expulsou os moradores nas décadas de 60 e 70 foi considerada ilegal.
Como se sabe nenhum governo, principalmente o inglês, aceitaria a derrota e em 2002 a decisão foi revertida. De acordo com um estudo financiado pelo Reino Unido a volta dos moradores seria impossível por conta das mudanças climáticas na região, mas o site Wikileaks revelou documentos para comprovar a manipulação do resultado. A rainha Elizabeth II, em 2009, assinou um decreto para proibir o regresso dos nativos. Porém em 2015 um novo estudo foi realizado, de forma independente, e forçou o governo britânico a reconhecer que o retorno seria realizável.
A região tem extrema importância para a chamada "Guerra ao Terror" proposta pelos E.U.A, pois a base militar da ilha serve como depósito de armas, combustível e armas e é considerada um posto avançado do país. O local serviu de base para ataques contra o Afeganistão e pode facilmente servir para intervenções na Ásia Central e África (este último não vai acontecer, pois não se importam com o que ocorre no continente. Ver o artigo "A África e seus problemas").
Calcula-se que o país tem mais de mil bases espalhadas pelo mundo e muitas delas em lugares inóspitos e sem acesso aos civis. Jornalistas não podem visitar a base de Chagos e a rede de TV Al-Jazera denunciou que o local foi utilizado pela C.I.A. para manter prisioneiros e realizar interrogatórios com métodos de tortura depois dos atentados de 11 de setembro.
Por conta da guerra fria e o medo do comunismo e/ou socialismo chegar em outros países os Estados Unidos investiram muito dinheiro nesse tipo de serviço à partir da década de 50 e isso permanece até os dias atuais. Em 2008 restabeleceram a IV Frota, criada em 1943 para operar no Atlântico Sul, e os governos da região protestaram por ser uma afronta à região.
Na primeira década deste século governos progressistas e considerados de esquerda comandaram muitos países como Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador e Venezuela e a criação da UNASUL (União das Nações Sul-Americanas) parece ter assustado o governo estadunidense, pois a independência da região não é algo bom para seus ambiciosos planos.
O arquipélago de Chagos, caso não fosse base militar, teria grande potencial turístico por ter inúmeras praias paradisíacas onde turistas desfrutariam de belíssimas paisagens para passar lua-de-mel. O local foi apelidado de "Ilha da Fantasia" pelos militares, pois os habitantes vivem com relativo conforto e podem aproveitar da estrutura disponibilizada pelos Estados Unidos que conta com cassinos, campos de golfe, clubes e restaurantes.
Não há como prever final dessa história, pois tudo indica que o Reino Unido vai renovar a concessão de uso da ilha aos Estados Unidos, que termina em 2016. Vão brigar com todas as forças para não conceder a volta dos últimos nativos vivos para a região, mas o problema não está esquecido e a luta dos chagossianos permanece viva, forte e com mais visibilidade perante o mundo.
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