Exploração da fé em favor do lucro e do comércio
O complexo na basílica de Nossa Senhora da Aparecida às vezes parece mais um shopping do que um local religioso
Por Thiago Marcondes
No último sábado, dia 30/07, fui até a cidade de Aparecida do Norte, localizada a cerca de 170 km de São Paulo. Fazia aproximadamente 02 anos que eu tinha ido ao Santuário e nesse pouco tempo percebi que muita coisa mudou.
A basílica, conhecida como a Igreja Nova, já que no alto da cidade tem uma antiga, começou a ser construída na década de 50 e sua inauguração ocorreu em 1980, durante a visita do então Papa João Paulo II que faleceu no ano de 2005.
Todos os finais de semana a cidade recebe uma grande quantidade de pessoas oriundas de diversas cidades e estados do país. Mineiros, cariocas e por aí vai. Os fiéis vão de carro, ônibus de linhas comuns e, em muitos casos, em excursões realizadas.
As pessoas, ao visitarem o santuário, vão em busca de pedidos para Nossa Senhora da Aparecida ou então para agradecimento, o que é mais comum, de uma graça alcançada como emprego, compra de carro, casa, viagem, casamento etc.
Existe uma sala reservada para a exposição de artigos que os devotos entregam na basílica após ter a graça alcançada. Por exemplo, é comum jogadores de futebol levarem camisas autografadas após um título, pessoas que largaram a bebida deixam garrafas de cachaça, gessos de membros quebrados, balas de armas de pessoas que sobreviveram à assaltos e tudo o que se pode imaginar.
No complexo, além do espaço para os fiéis rezarem, depositarem seus artigos como forma de reconhecimento da promessa cumprida, tem também espaço para aqueles devotos/turistas que levam suas refeições almoçarem no local. Inúmeros visitantes são de origem pobre e humilde e nem sempre têm condições de almoçarem em restaurantes na cidade, já que os preços variam de R$ 8,00 a refeição por pessoa até R$ 60,00 um prato que serve 02 pessoas.
Atualmente a basílica comporta um mini complexo comercial onde há lojas com artefatos religiosos, roupas, tênis, restaurantes de diversos tipos e entre eles há um MC Donald's. Um parque de diversões foi construído no local para o divertimento da criançada. O local é muito organizado e em vários momentos nem parece que se está em um lugar sagrado.
A fé da maioria das pessoas que visitam o local é incontestável e algo muito bonito de se ver, mas a igreja parece, em muitos casos, deixar isso de lado para explorar o lado comercial da situação. Cerveja é vendida logo cedo, à partir das 09h30m já é possível encontrar fiéis circulando com uma lata na mão.
Padres e seminaristas circulam pelo local e cumprimentam as pessoas como se estivessem dentro da própria igreja. As pessoas, em geral, passam a maior parte do tempo no mini-shopping do que dentro da própria igreja ou nos demais locais sagrados que lá existem.
Tudo foi construído, nos últimos tempos, para atender a demanda de devotos é claro, mas também para que o consumo seja realizado de forma compulsiva pelas pessoas. Eu mesmo, que fui com minha família, permaneci dentro da basílica somente durante o tempo da missa. As demais horas foram caminhando pela cidade porque os familiares queriam comprar, comprar e comprar.
A mais-valia impera naquele local e as pessoas, no geral, não percebem isso e acabam iludidas com os produtos à venda. Há santinhos de todos os tamanhos, cores, envoltos em madeiras com luzes, tipo um mini-altar com jogo de luz e tudo o mais. Um trio-elétrico circula pelo estavionamento com pessoas fantasiadas e músicas de louvor são entoadas para as pessoas.
O que deveria ser sério e respeitoso por parte das autoridades eclesiásticas (se é que podemos dizer assim) ficou de certa forma banalizada pelo único e simples intuito de vender, vender, vender e arrecadar, arrecadar e arrecadar. Há quem diga que compra e perde tempo com tudo isso quem quiser. Porém, de forma descarada o espaço é alugado, com certeza a preços elevadíssimos, e quem paga a conta é o fiel já que os produtos têm os valores relativamente altos.
O triste é saber que em vários momentos os representantes da igreja (deixo bem claro que não falo de DEUS e sim do HOMEM) seguem seus próprios interesses e deixam de lado o povo, o devoto. Na passarela que liga a basílica nova à igreja antiga há uma placa em homenagem ao Marechal Costa e Silva, que auxiliou no golpe de 1964 e presidiu a nação entre 1967 e 1969.
Sob seu governo foi instaurado o AI-5 (Ato Institucional nº 5) que deu plenos poderes ao exército para caçar a oposição e retirar todo o direito de liberade da imprensa e dos meios de comunicação. A construção do santuário foi realizada sob o período ditatorial onde todo o povo sofria e algumas alas igreja ctólica, com a força que exerca na sociedade, cruzou os braços para o problema.Aliás, como dito nesse mesmo artigo, a basílica foi inaugurada em 1980, período em que a ditadura ainda existia no Brasil.
Observação importante, mas que ficará para outra postagem. Na igreja antiga há uma estátua, não me recordo de quem agora, com bons dizeres sobre a Opus Dei e seu trabalho no campo religioso.
Thiago Marcondes é Jornalista
O triste é saber que em vários momentos os representantes da igreja (deixo bem claro que não falo de DEUS e sim do HOMEM) seguem seus próprios interesses e deixam de lado o povo, o devoto. Na passarela que liga a basílica nova à igreja antiga há uma placa em homenagem ao Marechal Costa e Silva, que auxiliou no golpe de 1964 e presidiu a nação entre 1967 e 1969.
Sob seu governo foi instaurado o AI-5 (Ato Institucional nº 5) que deu plenos poderes ao exército para caçar a oposição e retirar todo o direito de liberade da imprensa e dos meios de comunicação. A construção do santuário foi realizada sob o período ditatorial onde todo o povo sofria e algumas alas igreja ctólica, com a força que exerca na sociedade, cruzou os braços para o problema.Aliás, como dito nesse mesmo artigo, a basílica foi inaugurada em 1980, período em que a ditadura ainda existia no Brasil.
Observação importante, mas que ficará para outra postagem. Na igreja antiga há uma estátua, não me recordo de quem agora, com bons dizeres sobre a Opus Dei e seu trabalho no campo religioso.
Thiago Marcondes é Jornalista
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